domingo, 8 de dezembro de 2013

Dicas para escritores iniciantes

Olá!

    Muitos leitores que dão uma espiadela nos meus posts, já se depararam com citações minhas fazendo referência ao meu interminável livro. 



Já cheguei a me sentir desanimada, pensando e remoendo meu estômago com "ácidos de nervosismo", imaginando que estou demorando demais, me criticando além do necessário, correndo atrás de informações e instruções que não valerão como reforço no recurso de conquistar a atenção do leitor com o mérito de lhe causar diferentes emoções. 

E enfim, hoje me deparo com uma blogueira que me tirou do pessimismo e me chacoalhou para um retorno mais minucioso e talvez mais demorado da conclusão da minha primeira obra.

                                                                       
    Cris Lasaitis, escritora e dona do blog Anatomia da vertigem, deixou para escritores iniciantes um guia de primeiros socorros para o escritor, nele fica claro sua paixão pela arte de escrever e ler, e sua doçura e generosidade ao deixar instruções, que certamente ajudarão muitos a desatar os emaranhados de nós que criamos em nossas criações literárias.

Vou colar um pedaço do guia aqui no blog e para quem tiver interesse nessa ferramenta de conhecimento, vou deixar o link para o blog dela.

O que é preciso para escrever um bom conto/ romance?

Essa é uma pergunta muito subjetiva. Subjetiva mesmo, pois não existem fórmulas infalíveis e não há regras sem exceções. Escrever bem demanda um pouco de feeling, talvez um pouco de intuição, mas principalmente senso crítico, habilidade e experiência.

É lógico que escrever um conto de 2 páginas é bem diferente de escrever um romance de 500, mas aqui não disponho de tempo nem espaço para me aprofundar nos diferentes formatos. 


dicas para escrever:


1) Planejar o seu texto.

Há escritores que são intuitivos e que gostam de trabalhar com infinitos graus de liberdade; começam a escrever um texto sem saber aonde ele irá levá-lo, e deixam a história conduzir os seus próprios movimentos (já disse que tem escritores que acreditam que a história tem vida própria?). 
Isso pode ser simples para escritores experientes ou quando se escreve narrativas curtas. Mas a ausência de um planejamento pode deixar o autor perdido em meio aos labirintos das narrativas mais longas e complexas. Fazer um roteiro do que irá escrever, listando os acontecimentos principais da história dentro de uma sequência lógica, é a melhor maneira de controlar a condução da narrativa. 

É recomendável que você planeje capítulo a capítulo se for escrever um romance; e que planeje a sequência cronológica dos fatos e a sequência narrativa se for escrever uma história com cronologia não-linear. 

Repito que planejar é uma forma de ter algum controle, pois durante a redação é comum os acontecimentos fugirem ao plano, novas ideias surgirem gerando desvios na história, e até mesmo um final inesperado se impor antes do desfecho previsto.


2) Pense em gêneros literários.

Nunca cheguei a indagar outros escritores se eles pensam em gênero literário na hora de escrever. Não digo que você é obrigado a decidir-se por um gênero ou outro, a maioria dos autores conduzem suas histórias de forma intuitiva. Mas conhecer os gêneros literários é algo que pode ajudá-lo a compreender melhor o que você quer da sua história


 É mais uma forma de nortear a construção da narrativa e pode poupá-lo da dor de cabeça de se perder durante a escrita, começando uma história que parece comédia, depois fica com cara de melodrama e acaba como tragédia, só para citar um exemplo esdrúxulo.


Existem muitas noções falsas a respeito de gêneros e subgêneros literários. Para todos os efeitos, épico não é o mesmo que história de batalhas medievais, comédias não são necessariamente engraçadas, tragédias não são histórias que terminam em morte e melodrama não é sinônimo de novela mexicana açucarada. 

Deixei-o mais confuso? Por enquanto ficarei devendo uma elucidação desses pontos, mas pensarei em acrescentar um capítulo sobre isso futuramente neste guia. Por hora, meu conselho é que você seja curioso e pesquise sobre os gêneros lírico, épico e dramático, e os seus subgêneros. Eles nos oferecem inúmeros elementos para compor narrativas, e conhecê-los é a melhor forma de você se servir de todo o espectro de variações possíveis dentro da literatura e se sentir mais confiante para escrever, ainda que dentro de estruturas que não lhe pareçam convencionais.


3) Crie conflitos e explore a tensão emocional.

Para os mais ortodoxos, história sem conflito não é história, é só um “causo”. É comum crônicas serem desprovidas de conflito; por outro lado, contos, novelas e romances demandam complicações e resolução de problemas. Quando falo em conflito, note que não precisa ser nenhuma guerra declarada, o conflito pode ser sutil: um dilema, uma busca, um problema que demanda atitudes e ações do personagem. O papel do conflito é conferir tensão emocional à trama, e sabendo explorar a tensão você poderá tornar a sua história especialmente emocionante para o leitor. Existe uma curva clássica de tensão que você pode facilmente identificar em quase todas as narrativas da nossa cultura corrente (em contos, romances, lendas, filmes, peças…), e ela tem este perfil:





A história se inicia em uma situação basal (as coisas como são de costume), surge o fator complicador eliciando o agravamento da situação, o que gera um aumento gradual da tensão até o momento do clímax. No clímax há a resolução do problema (que pode ser também um fracasso), o relaxamento da tensão e, por fim, a conclusão.

Esse esquema é mais uma média do que uma regra. Em algumas narrativas mais longas essa curva não é necessariamente lisa, mas composta por vários picos de tensão. Também nada impede o autor de encerrar a narrativa no clímax, deixando-a sem resolução, ou, se preferir, de explorar uma conclusão excepcionalmente longa, com final e epílogo.


O que você deve saber é como extrair o máximo de tensão emocional a partir dos conflitos. Pensar conscientemente nessa curva de tensão poderá ajudá-lo muito na hora de escrever uma história emocionante.


4) Acerte o ritmo.

É preciso saber conduzir o leitor sem entediá-lo com um texto arrastado demais, nem deixá-lo insatisfeito com uma “ejaculação precoce”. Não é fácil descobrir qual a medida certa de contar a sua história. Se estiver escrevendo um conto, não há espaço para minúcias e prolixidades (ou encheção de linguiça). 


A narrativa do conto deve ser dinâmica, objetiva, todas as informações devem ser funcionais, e tudo o que for excessivo, redundante e desnecessário deve ser cortado. Isso não quer dizer que o conto dispensa descrições, aprofundamento psicológico e caracterizações – como eu disse, num conto todas as informações devem ter função; devem servir para ambientar o leitor e fornecer-lhe dados essenciais para que consiga acompanhar a narração sem problemas.

Já nos romances há bastante espaço para o detalhamento. É esperado que o romance tenha uma barriga, uma determinada quantidade de gordura textual que serve para enriquecer os entornos da trama, criar uma
ambientação rica, gerar pausas e respiros em que é possível a convivência do leitor com os personagens, potencializando o envolvimento emocional e a aproximação empática.


 No entanto, a ideia de que se dispõe de espaço de sobra pode ser também traiçoeira: ao querer engrossar o livro, o autor pode incorrer no erro de produzir texto demais para conteúdo de menos, e aí não há salvação; o romance ficará arrastado e o leitor terá a sensação de que o escritor está tentando enrolá-lo.

Procure usar o espaço disponível a seu favor. Escreva tudo o que lhe vier à mente, mas ao final do texto não deixe de reler e de
cortar tudo o que for excessivo e comprometer a fluidez da leitura.


5) Seja original.

Você não quer que sua obra seja mais do mesmo e o seu leitor espera que você lhe dê o gostinho de algo novo. Pode ser uma história com elementos improváveis, personagens inusitados, um ponto de vista diferente, uma premissa curiosa, uma nova forma de se contar histórias… Para ser original às vezes é necessário explorar os recônditos mais ocultos da imaginação, é preciso andar na contramão, ser meio louco e meio criança, não economizar na ousadia. 


Ser inventivo é fundamental em qualquer departamento da arte, mas isso não basta. Você só saberá o quanto pode ser original conhecendo o gênero literário em que escreve. Hein? Repito: você só terá uma medida da sua originalidade conhecendo as obras que já foram publicadas no gênero literário em que você escreve. 

Isso significa que você deve ler e pesquisar muito a fim de saber exatamente o que fazer para fazer diferente.

Você é livre para fazer menções e homenagens através da literatura, citando autores e obras que gosta. Apenas, de maneira nenhuma, incorra no plágio! Não queira se apropriar de personagens, lugares fictícios, invenções, ou ideias que não são suas. Vai ser muito feio se o seu leitor achar que você copiou uma ideia. Então, se for copiar, pelo menos disfarce direito!


Ser original também significa evitar ao máximo os clichês. O que é um clichê? É uma ideia que já foi tão usada que ficou gasta, e a gente usa sem pensar. Por exemplo: o herói bonitão e perfeito que vai resgatar a mocinha indefesa, que foi sequestrada pelo vilão mau e feio – quantas vezes você já viu essa história?


Apenas afiando o senso crítico o autor ganha um bom detector de clichês. Mas na ausência de um, fica a dica: tudo o que lhe parecer convencional demais provavelmente é clichê.


6) Seja verossímil.

Ser verossímil é ser convincente, é oferecer dados que conferem plausibilidade a uma ficção, é oferecer evidências capazes de tornar coerente até o fato mais louco. Você deve sempre buscar essa qualidade, e a razão é muito simples: quanto melhor formos convencidos, mais somos seduzidos por uma história. Trabalhar com a verossimilhança é, de certo modo, explorar essa falha de processamento que faz com que o cérebro não saiba distinguir bem ficção de realidade (razão pela qual acreditamos em religiões, lendas, mitos, seres sobrenaturais, etc.).


Há autores que acham que dentro da ficção científica e da fantasia tudo é possível, então não se dão ao trabalho de sustentar suas histórias dentro de uma lógica. Esse é um grande erro! Na verdade, trabalhar com a verossimilhança de universos fantásticos exige especial cuidado. Um autor que queira escrever uma ficção científica verossímil deve fundamentar sua história com conhecimento científico (ainda que seja uma ciência inventada por ele!). 


Do mesmo modo, um universo de fantasia convincente deve ter consistência interna e funcionar dentro de leis pré-estabelecidas (ainda que essas leis sejam completamente inventadas!), tomando-se o cuidado de não criar contradições.
Para quem quiser entender mais sobre a arte de enganar o leitor, recomendo fortemente ler os contos daquele que considero o mestre da verossimilhança fantástica: o escritor argentino Jorge Luis Borges.


7) Pesquise!

Por favor, escreva sobre coisas das quais você entende bem, não se aventure a afirmar sobre o que você não tem certeza. Escrever um livro demanda uma vasta pesquisa, mesmo se for um livro de ficção. 


Há um grande espaço para você exercitar a sua criatividade, naturalmente, mas mesmo uma obra fantástica não sairá integralmente da sua imaginação, você se baseará em algumas informações do mundo real – dados científicos, dados históricos, tecnologias, elementos mitológicos, elementos culturais, citações de outras obras literárias, etc. 

Lembre-se que o leitor é um bicho muito exigente, ele vai notar se você der um deslize, então não tente enrolá-lo sob nenhuma circunstância.


8) Crie personagens interessantes.

Saber criar personagens cativantes é meio caminho para conquistar o leitor. Podemos dividir os personagens em duas categorias geométricas: os planos e os esféricos.


Personagens planos são superficiais, e não são necessariamente piores do que os complexos, desde que tenham uma função a desempenhar dentro de uma história onde o foco são as ações, os acontecimentos, e não esses personagens. 


É comum personagens planos serem estereotípicos – o cientista maluco, a sogra infernal, a empregada gostosa, o gay efeminado e o milionário excêntrico são alguns exemplos de estereótipos –, mas há que se ter cuidado com esses perfis genéricos, pois costumam ser ofensivos. Personagens planos carregam a cruz de serem sempre o que são; podem até se redimir, mas não mudam. Não costumam ser bons protagonistas, e o leitor pode ficar enfastiado por serem óbvios e previsíveis.

Personagens esféricos (ou tridimensionais) têm profundidade psicológica, introspecção, defeitos e virtudes, questionamentos e revoltas, manias e idiossincrasias; são personagens parecidos conosco e, em virtude disso, potencialmente carismáticos e úteis para criar empatia com o leitor. Personagens esféricos costumam ir além do herói perfeito e do vilão perverso, coloque aí protagonistas e antagonistas que não são classificáveis dentro do modelo maniqueísta convencional; variados anti-heróis, vilões doces, duplas personalidades, personagens moralmente ambíguos, instáveis, mutáveis, imprevisíveis…


Os personagens podem tanto ser o “prato principal” de uma trama, como serem meras testemunhas do desenrolar dos acontecimentos. O teor da trama definirá a demanda dos personagens. E não se esqueça de que há histórias que admitem como personagens animais, objetos e até lugares.


Regra de ouro: todo personagem deve ter um papel dentro da trama. Se um personagem ficar sem função, é sinal de que ele está sobrando e deve ser cortado.


9) Cuide da linguagem.

É uma pena que a linguagem seja tão negligenciada pelos escritores que fazem literatura de entretenimento. Conheço muitos que se limitam a narrar a sequência de acontecimentos sem se preocupar em nenhum momento com o efeito das palavras. Para fazer uma comparação, são como desenhistas que só se preocupam com os contornos, ignorando completamente a ideia de pintar os desenhos. Uma obra literária sem trabalho de linguagem fica assim: daltônica, sem cor, carente de toda uma dimensão de qualidades.


Ao trabalhar com a linguagem, o autor está preocupando em usar todos os recursos expressivos da língua (fonéticos, morfológicos e sintáticos) para provocar sensações no íntimo do leitor. É uma forma dar personalidade à escrita, conjugando beleza e funcionalidade. Você pode escrever prosa poética, pode explorar o universo de coloquialismos da literatura regionalista, as gírias da literatura marginal, pode criar um linguajar inteiramente novo, sintonizar-se com um espírito de época ou rompê-lo intencionalmente. Escolhendo as palavras adequadas, você pode narrar na voz de um caipira, de um menino de rua, de um robô, de um homem das cavernas, de um poeta, de uma criança…


É difícil falar em linguagem sem citar exemplos, e como não disponho de espaço para isso, as melhores dicas que posso dar é: 



  •  estude figuras de linguagem e pontuação
  •  leia! Leia prosadores e poetas de todos os períodos literários, e leia autores clássicos e contemporâneos conhecidos pelo seu trabalho de linguagem.


    Aproveitem as dicas e bons textos à todos...
    Grande beijo
    Bianca Dias
   

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